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Armazenagem de sementes exigem cuidados diferenciados

By 29 de junho de 2023julho 3rd, 2023Destaques, Gestão de Armazéns
Armazenagem de sementes exigem cuidados diferenciados

Armazenagem de sementes exigem cuidados diferenciados

O acondicionamento é uma das etapas mais relevantes na fase pós-colheita para manter a qualidade do insumo, um processo mais exigente ao empreendido a grãos comerciais e que requer planejamento da estrutura e um dedicado acompanhamento

A qualidade fisiológica dos grãos-sementes tem influência direta no potencial agrícola. Através de produção de plantas vigorosas, estabelece-se um sistema altamente produtivo, com uniformidade e padronização. O armazenamento é um dos processos mais relevantes na pós-colheita de sementes, especialmente em regiões de clima tropical como o Brasil, onde as temperaturas elevadas exercem influências prejudiciais na sua qualidade. O teor de umidade e temperatura são fatores decisivos para a manutenção do potencial de armazenamento a níveis seguros, essenciais para evitar a deterioração das sementes durante este período.

A qualidade das sementes passa pela realização de procedimentos adequados no ciclo da produção agrícola como colheita, secagem, beneficiamento, transporte e armazenamento. Saber armazenar sementes sempre exigiu cuidados diferenciados em relação aos grãos com destino comercial. Atualmente, as exigências ficaram ainda maiores devido à sua evolução genética e de tecnologias que proporcionaram maior produtividade, resistências e novas adaptações. Não existe a possibilidade de melhorar a qualidade da semente no processo de
armazenamento. Dessa forma, o potencial da produção tem origem na lavoura, etapa na qual se deve ter os maiores cuidados, pois, a partir desse momento, o trabalho operacional estará destinado somente à conservação da integridade dos grãos.

Na sequência do processo, a atividade terá um aspecto funcional mecânico, segregando o material na recepção, limpeza da massa, secagem conforme o padrão semente, armazenamento adequadamente, mantendo as qualidades necessárias, vigor e germinação. Também o
uso de transportadores que evitarão danos mecânicos como correias transportadoras e elevadores de caçamba em velocidades reduzidas, evitando impactos forte que gerarão fissuras no tegumento.

 

Colheita no momento certo!

No campo, a colheita deverá ser iniciada no momento adequado, evitando risco de deterioração e formação de fungos de campo, microrganismos e ataque de pragas (insetos). Na entrada da unidade de beneficiamento (moega), deve-se realizar a classificação do produto, atividade em que se pode observar o teor de umidade, percentual de impureza, grãos avariados, dentre outros itens que determinarão o potencial desses grãos, se eles terão o destino para sementes ou comercial. Seguindo na linha do processo, a próxima etapa será a máquina de
limpeza, onde é realizada a atividade de remoção de resíduos como vagens, tocos, grãos danificados e imaturos, que prejudicarão as sementes no armazenamento. Na sequência, o processo de secagem, onde será padronizada a umidade para teor seguro, que será de 13% B.U. (base
úmida).

O teor de umidade é um dos fatores mais importantes que afeta o potencial da semente armazenada. Na secagem, há alguns métodos como secagem estática, onde o ar passa pela massa sem ela se movimentar (estacionária), método que reduz muito os possíveis danos mecânicos. Nele, deve-se ter cuidado quanto a uma possível condensação sobre os secadores, pois esse processo liberará água para o meio ambiente fechado e coberto.

Para evitar tal situação, necessita-se instalar exaustores na cobertura (telhado) do prédio. Outra modalidade é a secagem de fluxo contínuo de grãos, a qual é mais usual no mercado, devido à maior capacidade de produção (tonelada/hora). Esses secadores são compostos por uma torre de secagem vertical, onde os grãos entram na parte superior e saem na inferior com a umidade desejada. Nesse modelo, a temperatura de secagem será de até 60ºC para evitar danos na constitui- ção. Sementes submetidas a temperaturas elevadas sofrem danos irreversíveis, fundamentais para qualidade de germinação e vigor no campo. Importante informar que cada espécie de grão e tipo de secador tem uma temperatura limite de trabalho. Milho, soja, arroz e trigo não poderão ter suas temperaturas internas superiores a 43ºC. Por esse motivo, deve se praticar temperaturas menores, sendo um processo de remoção da água lento e cuidadoso.

 

Beneficiamento na UBS

A armazenagem será a última etapa antes de iniciar o beneficiamento da semente propriamente dito (na Unidade de Beneficiamento de Sementes, a UBS). A segurança, na armazenagem, está relacionada diretamente com a operação de forma correta das etapas mencionadas anteriormente. Quanto melhor executadas, maior será a segurança no controle e monitoramento do comportamento da massa. A conservação correta influencia diretamente no percentual de germinação e no vigor que são necessários quando chegar ao campo para semeadura.

Nos silos verticais de armazenagem, para segurança e qualidade final, é necessária uma massa limpa com percentuais baixos de impurezas, evitando concen- trações de resíduos na parte central, que poderão criar caminhos preferencias do fluxo de ar da aeração e aque- cimentos localizados, promovendo um possível percentu- al de avariados e crescimento da taxa microbiota. Reali-zando uma secagem com padrão uniforme de umidade de 13% B.U. (semente), se possibilitará uma atividade meta- bólica e a taxa respiratória menor.

Em casos de carga acima desse padrão, haverá uma aceleração respiratória dos grãos, gerando maior liberação de calor e água e promovendo prováveis danos às sementes. Conservar com as temperaturas mais baixas possíveis e esfriar as sementes são fundamentais para
conservação. Pode-se buscar esse resfriamento através da aeração (ventilação), realizando-o nos períodos adequa- dos, a fim de evitar a redução de umidade (secagem), acompanhando o equilíbrio higroscópico dos grãos, monitorando diariamente por um sistema de termometria.

 

Resfriamento dinâmico

Outra forma para uma conservação com temperaturas baixas é a utilização de equipamentos que promovam um resfriamento dinâmico, o que propiciará um ambiente climatizado onde a temperatura e umidade relativa são controlados e parametrizados, mantendo o
teor de germinação e o vigor, prolongando a ação da deterioração dos grãos e sementes. Deve-se manter a atmosfera interna na massa com umidade relativa próximo de 65% U.B. para evitar a proliferação de fungos e também temperaturas baixas (frio), reduzindo a atividade metabólica.

Para o armazenamento de sementes a granel, recomendam-se silos verticais, sem partes internas (mon- tantes) que retêm resíduos e com sua capacidade estática (metros cúbicos) menor em relação aos grãos comerciais, possibilitando a segmentação de variedades. Também é
importante a utilização de rampas amortecedoras para redução dos impactos quanto ao carregamento. Essas estruturas são instaladas no centro da carga do silo, de onde os grãos escoam por ela até o piso. A profilaxia interna evitará cruzamento de variedades e controle de
pragas e contribuirá para uma segurança no combate de insetos e roedores, que também poderá ser através de expurgo e tratamento inseticida preventivo. A manutenção de ambientes limpos e iluminados ajuda a termos adequação ambiental para a guarda das sementes.

O armazenamento necessita planejamento adequado da estrutura de instalação e seus equipamentos e muito acompanhamento durante todo o período. Conhecer e ter o domínio sobre a fisiologia de sementes e dos fatores que afetam a qualidade é importante para o sucesso na
Unidade de Beneficiamento de Sementes, onde esse produto será processado por classificadoras e padroniza- doras, mesa densimétrica, selecionador espiral e outros que tornarão o produto semente pronto para seu destino.

Adriano Mallet

Diretor da Agrocult Consultoria e Treinamento em Armazenagem. Engenheiro Civil Pós Graduado em Marketing pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/ RS - e Especialização em Agronegócio pela Universidade de São Paulo - USP. Trabalhou durante 22 anos no segmento (Kepler Weber), onde desempenhou suas funções como Engenheiro de Aplicação e Produto, e Gerente de Marketing Corporativo. Foi Diretor da ABMR&A - Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio, no período de 2006.

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