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Processo de Armazenagem de Sementes: Cuidados e Importância

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A qualidade fisiológica das sementes tem influência direta no potencial agrícola. Por meio da produção de plantas vigorosas, estabelece-se um sistema altamente produtivo, com uniformidade e padronização. O armazenamento é um dos processos mais relevantes na pós-colheita de sementes, especialmente em regiões de clima tropical, como no nosso país, onde as temperaturas elevadas exercem influência prejudicial na qualidade. O teor de umidade e a temperatura são fatores decisivos para a manutenção do potencial de armazenamento em níveis seguros, essenciais para evitar a deterioração das sementes durante esse período.

A qualidade das sementes depende da realização de procedimentos adequados no ciclo da produção agrícola, como colheita, secagem, beneficiamento, transporte e armazenamento. Saber armazenar sementes sempre exigiu cuidados diferenciados em relação aos grãos com destino comercial. Atualmente, as exigências são ainda maiores, devido à sua evolução genética e às tecnologias que proporcionaram maior produtividade, resistências e novas adaptações. Não existe a possibilidade de melhorar a qualidade da semente durante o processo de armazenamento. Dessa forma, o potencial da produção tem origem na lavoura, etapa em que devemos ter os maiores cuidados, pois, a partir desse momento, nosso trabalho operacional estará destinado somente à conservação da integridade dos grãos.

Na sequência do processo, nossa atividade terá um aspecto funcional e mecânico, segregando o material na recepção, realizando a limpeza da massa, a secagem conforme o padrão de semente e o armazenamento adequado, mantendo as qualidades necessárias de vigor e germinação. Também é importante o uso de transportadores que evitem danos mecânicos, como correias transportadoras e elevadores de caçamba, ambos com velocidades reduzidas, evitando impactos fortes que gerariam fissuras no tegumento.

No campo, a colheita deverá ser iniciada no momento adequado, evitando o risco de deterioração, formação de fungos de campo, microrganismos e ataque de pragas (insetos). Na entrada da unidade de beneficiamento (moega), devemos realizar a classificação do produto, atividade em que poderemos observar o teor de umidade, o percentual de impurezas, os grãos avariados, entre outros itens que determinarão o potencial desses grãos, se serão destinados à produção de sementes ou ao uso comercial.

Seguindo na linha do processo, a próxima etapa será a máquina de limpeza, onde realizaremos a remoção de resíduos como vagens, tocos, grãos danificados e imaturos, que prejudicam o armazenamento. Em seguida, iniciaremos o processo de secagem, padronizando a umidade para um teor seguro, que será de 13% B.U.. O teor de umidade é um dos fatores mais importantes que afeta o potencial da semente armazenada. Na secagem, existem alguns métodos, como a secagem estática, em que o ar passa pela massa sem movimentação (estacionária), método que reduz significativamente os possíveis danos mecânicos. Neste caso, é necessário ter cuidado com uma possível condensação sobre os secadores, pois esse processo libera água no ambiente fechado e coberto. Para evitar tal situação, é preciso instalar exaustores na cobertura (telhado) do prédio.

Outra modalidade é a secagem em fluxo contínuo, a qual é mais usual no mercado, devido à maior capacidade de produção (ton/h). Esses secadores são compostos por uma torre de secagem vertical, onde os grãos entram pela parte superior e saem pela inferior com a umidade desejada. Nesse modelo, a temperatura de secagem deve ser de até 60 ºC, para evitar danos à composição. Sementes submetidas a temperaturas elevadas sofrem danos irreversíveis, o que compromete a qualidade de germinação e o vigor no campo. É importante destacar que cada espécie de grão e cada tipo de secador têm uma temperatura limite de trabalho. Milho, soja, arroz e trigo não devem ter suas temperaturas internas superiores a 43 ºC. Por esse motivo, utilizam-se temperaturas menores, sendo um processo de remoção de água lento e cuidadoso.

A armazenagem será a última etapa antes de iniciarmos o beneficiamento da semente propriamente dito (UBS). A segurança na armazenagem está diretamente relacionada à correta execução das etapas anteriores mencionadas. Quanto melhor forem executadas, maior será a segurança no controle e monitoramento do comportamento da massa. A conservação correta influencia diretamente no percentual de germinação e no vigor necessários quando a semente chegar ao campo para a semeadura.

Nos silos verticais de armazenagem, para garantirmos segurança e qualidade final, é necessário ter uma massa limpa, com baixos percentuais de impurezas, evitando concentrações de resíduos na parte central, que podem criar caminhos preferenciais para o fluxo de ar da aeração e aquecimentos localizados, promovendo possíveis danos e aumento da microbiota. Realizando uma secagem com padrão uniforme de umidade de 13% B.U., possibilita-se uma atividade metabólica e uma taxa respiratória reduzidas. Em casos de carga acima desse padrão, há uma aceleração da respiração dos grãos, com maior liberação de calor e água, promovendo danos às sementes.

Manter as sementes em temperaturas o mais baixas possível e realizar seu resfriamento são fundamentais para a conservação. Esse resfriamento pode ser obtido por meio da aeração (ventilação), realizada em períodos adequados para evitar a perda de umidade, respeitando o equilíbrio higroscópico dos grãos, monitorando-os diariamente por um sistema de termometria digital. Outra forma de conservação em baixas temperaturas é a utilização de equipamentos de resfriamento dinâmico, que criam um ambiente climatizado com controle e parametrização da temperatura e da umidade relativa, mantendo o teor de germinação e o vigor, e prolongando a preservação das sementes. A atmosfera interna da massa deve manter uma umidade relativa próxima de 65% u.r. para evitar a proliferação de fungos, além de temperaturas frias, que reduzem a atividade metabólica.

Para o armazenamento de sementes a granel, recomenda-se o uso de silos verticais, sem partes internas (montantes) que retêm resíduos, e com capacidade estática (m³) menor em comparação aos silos de grãos comerciais, possibilitando a segmentação de variedades. Também é importante a utilização de rampas amortecedoras para reduzir impactos durante o carregamento. Essas estruturas são instaladas no centro da carga do silo, por onde os grãos escoam até o piso.

A profilaxia interna evitará o cruzamento de variedades e o aparecimento de pragas, contribuindo para a segurança no combate a insetos e roedores, que também pode ser feita por meio de expurgo e tratamento inseticida preventivo. A manutenção de ambientes limpos e bem iluminados contribui para a adequação ambiental no armazenamento das sementes.

O armazenamento exige planejamento adequado da estrutura de instalação e de seus equipamentos, além de acompanhamento constante durante todo o período. Conhecer e dominar a fisiologia das sementes, bem como os fatores que afetam sua qualidade, são pontos essenciais para o sucesso na Unidade de Beneficiamento de Sementes, onde o produto será processado por classificadoras, padronizadoras, mesas densimétricas, selecionadores espirais e outros equipamentos, tornando a semente pronta para seu destino: semear a próxima safra.

Engº Adriano Mallet – Diretor técnico da Agrocult

E-mail: adrianomallet@agrocult.com.br

Instagram: @adriano.mallet


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